quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Musical Idade.

Samba no pé. Sertanejo na palma da mão.
MPB na ponta da língua. E rock no coração.

O encontro.

A Nuvem se apaixonou pelo Riacho. Dias e noites se passaram e ela, estática, apenas observava seu amado. O Riacho, por sua vez, corria apressado e desatento, sem jamais notar sua admiradora tão cheia de amor. Então, de coração partido a Nuvem se desfez em choro. E, quando menos esperava, encontrou-se com o Riacho, pondo-se a correr com ele. Como ela sempre sonhou e como ele jamais imaginou: eram, agora, apenas um.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Escadaria.

Vem correndo, vem. Larga tudo aí e vem.
Deixa os problemas, deixa as tristezas e vem.
Não diz que não dá, esquece isso e apenas vem.
Eu tô aqui embaixo te esperando, então diz que vem.
Dá um jeitinho e vem ser muito feliz aqui comigo, vem.
Vem que se eu não for sua não sou nada. Vem, vem, vem. 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Motorista.

Menina, o segredo é parar no farol, mas continuar seguindo assim que ele abrir. Não se encante pela vista familiar, e não se assuste com o vislumbrar de um novo horizonte. No caminho pode chover ou fazer sol, mas deixe sempre uma fresta da janela aberta. Não ligue para as gotas de água no rosto ou para o cabelo despenteado, apenas sinta o que acontece lá fora, e lembre-se de que está protegida aqui dentro. Acelere e freie quando achar que deve, mas não faça as duas coisas ao mesmo tempo. Cuidado com os buracos e com as placas apagadas pelo tempo, elas podem te confundir. Você pode virar sem dar seta, mas jamais dê seta muito antes de virar. Dê passagem aos outros, mas tome cuidado para não ficar para trás. Evite trafegar pelo acostamento. Verifique a gasolina vez ou outra e abasteça quando precisar, sem economia. Tome cuidado com os radares e, em caso de multa, não deixe para pagar depois. Nos pedágios agradeça o descanso da estrada. Ligue o rádio se achar necessário, mas não se distraia. Use o GPS se precisar, mas não se torne seu refém. Use o cinto de segurança. Limpe as janelas e jogue o lixo fora, sempre. O caminho é um só e o destino é certo, minha menina. Como você vai percorrê-lo é que fará toda a diferença. Boa viagem.

Sonhos.

- Do que são feitos os sonhos, afinal?
- De certezas duvidosas e variáveis.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Meu segundo texto para o Fábio.

Por mais que eu passe todos os dias - e noites - ao seu lado, ainda sinto como se faltasse tempo para te descobrir. Ainda parece que não te conheço e que te descubro a cada nova palavra e a cada novo olhar. Faz seis meses que você é todo novo, de novo, todos os dias. Do beijo de boa noite ao beijo de bom dia, antes de você sair para o trabalho e eu dormir só mais um pouquinho. Sabe, ainda não me acostumei com a sua mania de tomar café-da-manhã em pé ao lado da pia da cozinha, mas sei que você já se acostumou a esquentar o meu pé gelado sempre que me deito. Quando você me liga durante a tarde, eu não preciso mais dos “eu te amo”, mas espero ansiosa pelo “tudo bem?”. Eu sinto você me protegendo do peso, da chuva ou da tristeza. Você me acalma, me transforma. Você entra no meu coração tirando tudo de ruim e coloca tudo de bom no lugar. Adoro como você conta sobre o seu dia, sem esquecer de nenhuma vírgula porque eu gosto dos detalhes, dos parênteses, e gosto de me sentir presente, mesmo estando em outro lugar. Sabe, amor, eu já não ligo pra louça suja na pia, pra roupa no chão do banheiro ou pra cama desarrumada, contanto que tenha seu ombro pra eu me deitar no fim do dia. Eu espalhei fotos do nosso casamento pela casa porque ele ainda parece uma invenção só nossa. O dia em que eu deveria estar nervosa e estava calma. O dia em que eu poderia chorar, mas apenas consegui sorrir. O dia em que você me disse sim com um olhar e “eu te amo” com um beijo. Há seis meses eu abro a porta da nossa casa e me surpreendo com uma vida inteiramente nova. Todas as nossas diferenças, manias e sonhos, juntos no mesmo espaço. Você já não precisa me ligar todas as noites e esperar que eu atenda, mas começou a dizer “vem aqui”, mesmo sabendo que eu nunca vou. E eu continuo insistindo pra você comer brócolis e tomate mesmo que você ache ruim. Aliás, a gente descobriu que não liga mais para o arroz sem sal nem pro bife queimado, desde que tenha um chocolate nos esperando no final. E todos os dias, quando chego de trem na estação eu ainda olho meu reflexo no vidro e ajeito meu cabelo antes de procurar o seu carro, para ter certeza de que você vai me achar bonita. Eu continuo usando um pijama velho com chinelinho de vó porque você também tem um chinelinho de vô. Concordamos em ser velhos que gostam de pizza de brigadeiro e dormem cedo no sábado a noite. A gente não faz questão de ser jovem, a gente só faz questão de ficar junto. Eu querendo te encher de roupas, você querendo me encher de beijos. E todos os dias, a gente se entende, para sempre.

Ciclo.

Caiu, caiu e caiu.
Parecia que não levantaria nunca mais.
Enfim, alcançou o chão.
Ficou, ficou e ficou.
Parecia que não sairia dali nunca mais.
Até que perdeu o chão.
E começou tudo de novo, de novo e de novo.

O que é o coração?

Uma língua que jamais se falou.
Um planeta que ninguém nunca viu.
Um lago em que ninguém mergulhou.
Um sabor que jamais se sentiu.
Um beijo que ninguém deu.
Um amor que jamais se amou.
Um perdão que ninguém perdoou.
Um sorriso de nunca se abriu.

(H)ora.

Calma que na hora certa tudo se acerta
A alma cansa da dúvida e para de duvidar
Quem ama não tem tempo a perder
Mas não são todas que se pode ganhar

Pena.

Era tão certinha que virou a pessoa errada.

A moeda.

Revelou sua outra face. 
Era tão chata quanto. 
Não dei valor. 
Gastei-a até acabar.

Fechada.

Quem muito abre mão de tudo, deixa a felicidade escapar pelos dedos.

Teu.

Deixo que saia
Desde que veja
A culpa tua.
Deixo que caia
Desde que seja
A culpa minha.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Pra você.

Eu escrevia seu nome na sola da minha rasteirinha e fala seu nome doze vezes na noite de Ano Novo pra você gostar de mim.

Na quaresma, prometia ficar sem comer chocolate quarenta dias e quarenta noites pra você gostar de mim.

Eu andava com as meninas populares e usava shorts justo na escola de freiras pra você gostar de mim.

Nas provas, fingia não saber as respostas e tirava notas baixas para não parecer nerd e você gostar de mim.

Eu joguei fora meu diário de chavinha dourada que ganhei da minha avó para não parecer criança e você gostar de mim.

Daí, um dia desses, eu te vi na fila de algum lugar, virei as costas e sai andando. Melhor assim, pra você nunca mais gostar de mim.