A distração era tanta que mal pude perceber quando aquela
onda de medo invadiu meus pensamentos. Vinha carregada de uma espuma de
lembranças, que gentilmente de desmanchava em saudade ao entrar em contato com
a minha pele.
Senti os pés refrescarem, mas logo comecei a afundar em um
sentimento movediço que, entorpecendo todos os meus sentidos, me levou para bem
longe.
Fui parar em alto mar, banhada de frustrações por todos os
lados. E só então pude perceber o que me aguardava mais a frente: imensas ondas
de emoção me jogariam contra um muro de emoções petrificadas. Os rochedos do
meu coração. Eles estavam lá há tanto tempo que mal notei, eram como parte
integrante da paisagem.
Tentei nadar, tentei correr, mas julguei que seria inútil. Entreguei-me.
Queria que tudo acabasse depressa. Queria dormir, queria esquecer, queria
descansar. Estava cheia daquela água entrando por todos os meus poros,
invadindo o que ainda me restava de vida sem ao menos pedir licença.
Então, sem que eu tivesse tempo de recusar, um turbilhão de
sonhos me carregou para longe daquele destino. Alguns diriam que não era a
minha hora, outros diriam que foi pura sorte. E quando quase me rendi ao
cansaço pela segunda vez, uma força nasceu dentro de mim, fazendo que eu me agarrasse
a um pedaço de esperança que flutuava não muito longe dali. Quando não há mais
nada a se fazer, flutuar até que é bom. Por isso, eu flutuaria por quanto tempo
fosse necessário.
De repente, senti minhas costas pousadas sobre um chão firme
de areia escaldante. Meus olhos se abriram revelando toda a luz do céu e do sol,
de uma só vez. Sentia a realidade
pulsando em cada ínfimo pedaço do meu corpo. Os raios de sol lambiam meu rosto.
Não achava que seria capaz, mas eu sobrevivi.
Um novo dia começava e era hora de levantar e procurar ajuda
para curar todas aquelas feridas, traumas e medos. Um dia, pensei, ainda vou
rir desta história. Um dia.