segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Descreve.

As vezes eu queria que você fosse como eu sou.
Que gostasse das palavras e escrevesse sem parar.
Passaríamos noites em claro digitando poemas de amor sob a luz de uma vela.
Se pelo menos você gostasse, poderíamos encher a estante de livros e decorar a mesa com jornais.
As paredes seriam pintadas em frases e não mais em linhas.
E aquelas nossas brigas se tornariam verdadeiros romances de novela.
Teríamos caixas de cartas, bilhetes e roteiros de férias imaginárias entupindo os armários.
Se realmente você fosse como eu, não jogaríamos as palavras da boca para fora.
Nosso amor estaria em cada pedaço de papel, como um mapa escrito a mão.
Mas eu sei que você não é. E isso não quer dizer que entre nós exista um ponto final.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Rotina.

Remexo.
Reviro.
Estremeço.
Deliro.
Enlouqueço.
Piro.
Esqueço.
Adormeço.
Respiro.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Bagunça.

Quando abri os olhos senti como se tudo ainda fosse como antes. A realidade, então, abriu a porta do quarto a pontapés e me concedeu um grande soco no estômago. Virei para o lado em busca de socorro. Os lençóis frios e estendidos gritavam sua ausência de forma ensurdecedora. Corri para longe de tudo e deixei que cada lágrima lavasse a entrada do meu coração. Chegou a hora de arrumar as coisas por aqui.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

As cores da alma.

Na terceira gaveta do meu criado-mudo mora um arco-íris. Desses que a gente guarda em vidrinhos. Tudo separado e sempre bem juntinho. Vira e mexe uma cor sai de lá que é pra eu sair com ela. Sempre na ponta dos dedos.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Não mais.

Não vou mais dormir.
Enquanto as horas não pararem, os segundos não cessarem:
Não vou mais sentir.
Enquanto o mundo faz-se surdo e o chão de lama fica imundo:
Não vou mais ouvir.
Enquanto a musica das letras não soar como um poema:
Não vou mais mentir.
Enquanto o vento for de brisa e no punho vir faísca:
Não vou mais. Cair.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Heranças.

Depois que seu avô se foi, Maria ganhou uma amiga. Antes disso, não se lembrava de ter conversado tanto com ela. Jamais percebera que por trás daquela mulher forte e briguenta havia tanta coragem para enfrentar a vida. Parece que vinte e dois anos depois de chegar a este mundo, ela estava começando a conhecer o mundo da avó. Cheio de histórias e receitas que lhe faziam querer voltar no tempo e aproveitar cada segundo que desperdiçou em brigas e malcriações. O tempo as uniu para que conhecessem o verdadeiro sentido da amizade. E mesmo lá de cima, seu avô ainda sorri.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Luz.

Espantei o medo de escuro abrindo as janelas da alma.

Louco.

Ele brinca no abismo da loucura.
Profana no eco dos sonhos.
Leva os olhos negros de torpor.
É dono deste e de todos os mundos.
Tem a coragem nas pontas dos dedos.
Nunca coube dentro de si.
Ele quer viver por ela.

Antes de tudo.

Meus desejos e seus medos,
ditos de antemão.

Todos os pontos e virgulas,
no deslizar de nossas mãos.

Ontem a noite.

Restaram memórias complexas, perplexas e desconexas.

Sininhos.

A maioria da pessoas som sindrome de Peter Pan acredita estar na “Terra do Sempre”.

Do outro lado do balcão.

Começou num copo. E acabou em outro. Entre eles, alguns anos foram deixados para trás. Gentilmente a bebida lhe apagava as mágoas pedindo em troca o melhor de sua juventude. O álcool entrou em suas veia gole por gole e ela se deixou levar com o coração em pedaços. No começo houve diversão, pensamentos que evaporavam pelo ar, beijos que faziam girar o céu. Toda tarde ganhava uma dose de alegria, de esperança e de amor. Os dias frios passaram a ser quentes e depois vieram as noites, as luzes, as portas de banheiro pichadas e as garrafas vazias espalhadas pelo chão. Achavam que aquilo era o frescor da juventude. Também não puderam apagar as brigas, os gritos, as lágrimas. E as noites frustrantes de sono irremediável. Deixaram de ser um casal. Deixaram de ser jovens. E também deixaram os sonhos para trás. Enquanto ele aumentou as doses ela fez crescer a distância que os separa.