quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Nau-frágil.

A distração era tanta que mal pude perceber quando aquela onda de medo invadiu meus pensamentos. Vinha carregada de uma espuma de lembranças, que gentilmente de desmanchava em saudade ao entrar em contato com a minha pele.

Senti os pés refrescarem, mas logo comecei a afundar em um sentimento movediço que, entorpecendo todos os meus sentidos, me levou para bem longe.

Fui parar em alto mar, banhada de frustrações por todos os lados. E só então pude perceber o que me aguardava mais a frente: imensas ondas de emoção me jogariam contra um muro de emoções petrificadas. Os rochedos do meu coração. Eles estavam lá há tanto tempo que mal notei, eram como parte integrante da paisagem.

Tentei nadar, tentei correr, mas julguei que seria inútil. Entreguei-me. Queria que tudo acabasse depressa. Queria dormir, queria esquecer, queria descansar. Estava cheia daquela água entrando por todos os meus poros, invadindo o que ainda me restava de vida sem ao menos pedir licença.

Então, sem que eu tivesse tempo de recusar, um turbilhão de sonhos me carregou para longe daquele destino. Alguns diriam que não era a minha hora, outros diriam que foi pura sorte. E quando quase me rendi ao cansaço pela segunda vez, uma força nasceu dentro de mim, fazendo que eu me agarrasse a um pedaço de esperança que flutuava não muito longe dali. Quando não há mais nada a se fazer, flutuar até que é bom. Por isso, eu flutuaria por quanto tempo fosse necessário.

De repente, senti minhas costas pousadas sobre um chão firme de areia escaldante. Meus olhos se abriram revelando toda a luz do céu e do sol, de uma só vez.  Sentia a realidade pulsando em cada ínfimo pedaço do meu corpo. Os raios de sol lambiam meu rosto. Não achava que seria capaz, mas eu sobrevivi.

Um novo dia começava e era hora de levantar e procurar ajuda para curar todas aquelas feridas, traumas e medos. Um dia, pensei, ainda vou rir desta história. Um dia.


Passou.

Você foi passado. Dobrado. Guardado. Mofado. Esquecido.

Único.

O problema do amor platônico é a esperança platônica.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Do bem.

Vanessa era feliz
Mas vivia a suspirar
Vivia num mundo só dela
Onde com calma podia andar
Gostava de fazer o bem
A quem pudesse precisar                                          
Escrevia dia e noite

Para o mundo melhorar.

O Dia D.

De branco ela entrou
Com o buquê na mão
Ele pegou a aliança
Ela entregou o coração.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mais uma letra.

Soava como música mas doía como um soco no estômago.

Humano.

De repente se viu espírito numa prisão de carne e osso. E sem saber como sair, lá ficou, por tempo indeterminado.

Diferentes.

Ela era amor, ele era razão
E sem mais nem menos
Uniram-se então.

Ela era noite, ele era dia
Juntos completavam-se
Na mais perfeita sintonia.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Duvidosa.

Estava protegida mas insegura
Certa mas com medo de errar 
Quando parada se sentia inquieta
E quando em movimento só pensava em descansar 
Ouvia pra não dizer o que pensava
E quando dançava fugia pra outro lugar
Se sentia triste por dentro
Mas até quando não queria
Carregava alegria no olhar
Nunca disse o que sentia a ninguém
Ah meu Deus, o que poderiam pensar?
E assim Mariana foi vivendo
Uma noite atrás da outra
Com suas lágrimas a secar.

Divisão.

A única maneira de amar duas pessoas é partindo o coração.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Aquela noite.

Não posso dizer que foi uma grande surpresa pois somos sintonizados demais para isso. Eu sabia de tudo, mas fingia desconfiar. Também não foi tão romântico assim pois nos conhecemos bem demais para isso. Ele estava nervoso, controlando cada passo. Subimos andares e mais andares.
Era noite e havia um delicioso som de piano preenchendo o ambiente. Lá fora, haviam luzes e mais luzes de uma cidade que, agitada como sempre, não parou para nos assistir. Aliás, quem parou fomos nós. Hipnotizados pela paisagem, banhados pelo vento frio, agradecemos a Deus por cada segundo de vida, cada suspiro e cada batida de nossos corações apaixonados.

O relógio tão distante, mas tão grande, sussurava que eram quase onze horas da noite. E eu ainda procurava a bendita caixinha que fora devidamente escondida. 

O fato é que eu nunca havia estado em um lugar daqueles. E achei até que fosse me sentir deslocada. Mas, de alguma forma, eu sabia que não havia outro lugar no mundo em que eu pudesse estar naquele momento. Me sentia livre, completa, feliz.
Conversamos e comemos por horas a fio. A luz suave e o clima sereno nos deixava cada vez mais a vontade, com uma espécie de ansiedade tranquila, gostosa de sentir. Sabíamos que aquele era um momento especial e da forma mais “nossa” possível, ele disse que havia me escolhido.

Não me lembro de uma palavra sequer, mas ainda posso fechar os olhos e me lembrar da sensação, da emoção. “É agora, é isso, preste atenção, decore o que ele diz, aproveite!” Pois é, lá estava a caixinha aveludada, com o anel mais delicado e lindo do mundo. Em cima da mesa e bem na minha frente. E foi atrás dela que eu encontrei aqueles olhos tão brilhantes, cheios de amor e expectativas.

Ele sabia que meu coração já havia feito sua escolha há quase quatro anos atrás. De certa forma, o que ele realmente gostaria de saber era se havia feito tudo exatamente como eu sonhava. E a resposta foi: sim. 
Mais uma vez, eu dizia sim para ele, para o seu abraço protetor, para seu beijo carinhoso, para o seu sorriso lindo. Então nos abraçamos e o piano continuou a tocar, os garçons continuaram a servir e as pessoas continuaram a conversar.

Era isso, não havia palmas, não havia assobios. Éramos, provavelmente, só mais um casal que trocava alianças de noivado e promessas de amor naquele local, naquela noite. Mas, em algum lugar do céu estrelado, os anjos cantaram e dançaram, comemorando o encontro de duas almas destinadas a felicidade.


Enfim, noivos.