quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Natalino

Todo Natal tem amigo secreto, amigo oculto e amigo chato.


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Final Feliz.

Existe uma semelhança entre a distraida e o observador.
Depois de um beijo, um não vive sem o outro.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sabedoria alcólica.

Antes só bebia destilado, agora bebe daquele também.

Tempo.

As vezes passa um dia mas não passa uma hora.

Mudanças.

Mudei. E não foi de casa, nem de emprego.
Tampouco de amigo ou namorado.
Mudei de mim e por você.
Pra um dia, a gente ser feliz sem mudar nada.

A luz de holofotes.

Fui a um jantar cheio de pompa e circunstância. Com muito requinte, requentavam as sobras que se espalhavam pelo buffet. E entre os pratos de carne e peixe, alguém soltou a franga. Ai foi culpa da bebida, pobrezinha, que borbulhava apertada na taça. O discurso demorou até que os copos ficaram vazios, preenchidos pelas risadinhas educadas. Sobrou até pro guardanapo lembrar o telefone da menina. E enquanto todo mundo dançava eu fui dormir, feliz.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Resoluções

Sinto-me completa: ESCREVI um blog, PLANTEI um feijãozinho no algodão e TIVE um filhote de cachorro.

Ano Novo

Aquele ano começou pequeno, mas cheio de esperança. Em um brinde de boas-vindas reuniu meus sonhos e desejos mais profundos. Transformou-os em uma beleza sem tamanho. Seguiu em frente confiante e enfrentou os mais diversos obstáculos. Tornou-se maior do que eu podia imaginar e surpreendeu a todos. Hoje, o ano termina na praia, mais vivo do que nunca. Assim, eu levanto novamente a mesma taça e agradeço essa onda de felicidade que me invade e começa tudo outra vez.

Para presente

Ninguém conhece uma receita para viver, amar ou ser feliz eternamente. As vezes a gente só quer pensar no futuro e remoer o passado.

É quando o presente chega e te dá um tapa na cara, daqueles que deixa a marquinha dos dedos. Sabe, foi exatamente assim que aconteceu.

A senhora do lenço azul acordava cedo para preparar o café todo santo dia, mesmo que santo não fosse. Fazia tudo em silêncio, arrastando os chinelos gastos.

Quando abria a boca não havia previsão de que ela voltasse a se fechar. Seu discurso era direto, reto e chato, arremessado com as panquecas na direção do pobre Doutor Chico.

Se a natureza não havia feito dele um homem surdo, dera-lhe a capacidade de se parecer com uma pedra. E tudo que entrava por um ouvido saia pelo outro: intocável, inodoro, inouvido.

Era senhor distinto, aposentado e cansado. Pensava em seus amores, suas perdas e a saudade que só crescia, mesmo que fosse de tudo aquilo que não fizera ou mesmo daquilo que jamais iria conhecer. Um mundo lá fora girava sem parar enquanto ele, parado em sua cadeira manca, quase que por inércia, ia se arrastando pelos anos com o peso de sua consciência.

Por ironia, a pedra em seu sapato era a mulher que jamais cansava de falar. E reclamava daquilo que estava por vir, do que havia de passar e dos sonhos que nunca chegavam a se realizar. O tempo para ela era contado, irritado e apressado. E nada chegava, nem mesmo uma carta.

Até que um dia, para ser exato uma manhã ensolarada de domingo, ao som de passarinhos a casa veio abaixo. De longe, na estrada eles lamentaram de mãos dadas.

Ele viu lembranças soterradas, ela avistou sonhos destruidos. E em um canto, sob uma tabua cheia de poeira estava o presente que jamais receberam: aquele momento.

Dica útil.

Maracujá bom, é maracujá feio.
Isso não se aplica, necessariamente, a namorados.

Um cartão especial

Por que quando eu te amo as horas ficam tão curtas e os dias tão pequenos? E por mais longas que sejam as horas e maiores que sejam os dias, nunca parecem suficientes para satisfazer
a vontade que sinto de estar com você?

Porque quando eu te amo essa paixão aperta meu coração? É uma mistura de amor e saudade que alimenta nossos beijos e alegra nossas almas. A saudade invadindo meus pensamentos para que eu fique apaixonada por você. Até o próximo beijo, de novo e de novo.

É porque eu te amo que o para sempre se tornou finito, e você se encaixou nele inteirinho. Ocupou cada fresta da minha vida e se instalou no meu coração. E nós passamos as horas e os dias dizendo eu te amo em frases longas, curtas e apertadas.

Dúvida

Como alguém tão quadrado pode ter idéias tão redondas?

Mentira

A verdade é uma ilusão que se molda as nossas vontades.

Eu me irrito, eu grito e minto.

Quem foi que disse que a perfeição está na calma, no silêncio ou na verdade?

Presente

Meu presente de aniversário está logo ali.
Sem embrulho, nem laço, nem cartão.
Sutil como um pingo sem i.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Oportunidade

Oportunidades são como nuvens: enquanto você tenta adivinhar com que bicho lhe parece, ela já passou.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Cadê?

Procura-se um namorado que perdoe atrasos e esteja presente em todas as horas.

Gentilmente

Hoje pela manhã meu celular me convidou gentilmente a tirar uma soneca. Por educação eu aceitei.

Amores

Tem aquele amor de amigo, que num sorriso vira amor.
Querer bem sem estar junto.
Querer estar junto mas não querer bem.
Tem amor que dá coragem de voar da janela do prédio.
E tem aquele que faz perder o ar.
Tem gente que tem medo de amar.
E tem gente que ama todo mundo.
Conheço amor pra vida inteira.
E também conheço amor que é só mais um na vida.
Amores inesquecíveis, marcantes.
E até mesmo insignificantes. Mas que um dia foram amores.
Tem amor que é paixão. Paixão que vira amor.
Já vi amor que queima de desejo. Ou cheio de carinho.
Amor que acaba, que passa, que muda de coração.
Tem amor que sente ódio. E que chora.
Amor que sorri o tempo inteiro.
Que vira amizade. Amor de melhor amigo.
Amor de família. E que não acaba nunca.
Amor além da vida. Amor além de tudo. Amor além do amor.
E tem você.

Blá

O que tem dentro da sua cabeça?
Porque as moscas voam?
E morrem
E dormem
O sono daqueles
Que voaram
Que sonharam
Porque os peixes nadam?
Nadam
Nada
Nada muda
Sempre parados
Presos
Afogados
Porque o tempo passa?
As nuvens
Espessas
Pesadas
Chovendo
Porque a gente ama
E ai voa
E ai nada
E ai, um dia chove
E tudo acaba.

Embolando

Tem criança que bola plano mirabolante pra brincar até mais tarde. Tem adolescente que bola ideia pra fugir da aula. Tem cara que bola desculpa esfarrapada pra enganar a namorada. Tem publicitário que bola campanha publicitária. Tem jogador que domina a bola no pé. E tem sempre o pessoal que bola uma festa legal. Ai vem a galera gente boa que não embola, que é pra não ficar bolado. E nesse bolo de gente, a bola da vez é bolar um bem apertado.

Bom dia

Quando abri os olhos naquela manhã, senti que amava. Não sabia o que, mas amava. Talvez a vida, as cores, as palavras. Eu exalava amor. Suspirava paixão. Paixão de estar amando. O coração se debatia dentro do meu peito rasgando tudo ao redor. Quase que não cabia em mim. Era amor demais. Acabou quando te vi. Olhando pra mim. E tudo estava errado. Você virou as costas e levou meu coração.

Criança todo dia

Vou ser criança quando eu crescer.
Do nascer do sol ao escurecer.
Acordar de pé no chão, e depois ir a lua.
Descobrir o mundo e jogar bola na rua.
Aprender o que já sei e o que não quero saber.
Paquerar da escola e brincar de me esconder.
E na hora de dormir, entre estrelas e histórias.
Vou saber que a infância não ficou só na memória.

Pretérito do Passado

Acredito que o meio justificou o fim.
E assim foram ambos: patéticos.
Na mão esquerda ele segurava o cigarro, como era de costume durante as conversas ao ar livre na hora do intervalo de aula
Ela sentada na mureta balançava os pés como uma criança e avistava os carros que passavam a correr na avenida ao lado
Pareciam dois estranhos. Estranhos conhecidos.
Ela sabia o que ele queria. Ele sabia o que queria.
Eles fingiam não saber. Não queriam mais o mesmo.
Ela pegou a bolsa, agarrou seus sonhos e foi embora.
Ele e ela nunca mais se viram.
E o fim, esse sim, fez jus ao meio.

Estranho

Quando estou com ele é como se o conhecesse mais do que a mim mesma. Eu posso sentir sua respiração. Adivinho suas palavras. Conheço sua risada mais tímida.
Quando estou com ele é como se ele me conhecesse mais do que eu mesma. Ele sabe o que me dizer. Sabe onde tocar. Ele sorri.
Quando estamos juntos o mundo para. Conhecemos um ao outro e é isso que importa.

Gigi

Todas as manhãs Gigi devorava sonhos.
Recheados de desejos e sensações.
Saia de casa com uma bolsa do tamanho de suas esperanças, cheia de curiosidade.
Enchia os ouvidos de musica e o coração de paixões.
Conhecia um mundo novo a cada passo.
Ela sabia o que iria encontrar a cada instante e, ainda sim, cada instante era uma surpresa.
Gigi não procurava por nada. E encontrava de tudo.
Namorava amores, beijava paixões.
Pare ela o dia poderia ter 24 horas. Ou mais. Ou menos.
Ela era dona do tempo.
Dona de seu destino perfeito.

Conselho

Odeie o que está escrito.
Ame o que foi apagado.
Apague o que nunca será consertado.

O Plano

Pode deixar, planejei tudo. Terminamos o namoro agora. Você ainda é novo, eu ainda quero viver muita coisa. Dois anos de convivência... Ah! O que são dois anos? Superaremos. Tiraremos as alianças em casa para não ter chororô. Você sai por aquela porta e não me liga. Apaga meu telefone agora pra garantir. Pode ficar com os presentes, mas guarde as fotos e cartas bem escondidos. Você vai sofrer. Vai começar a namorar aquela menina que conhecemos. Você vai querer me esquecer e ela vai estar a disposição. Vocês não combinam e vão brigar muito. Aguente. Não fale de mim ou ela vai ficar brava. Talvez ela mesma fale de mim porque tem ciúmes e vai querer ter noticias minhas. Ignore-a. Termine o namoro. Continue estudando. Entre na faculdade. Vá morar naquela cidade longe, cheia de festas, bebidas e mulheres. Amadureça. Conheça pessoas, lugares. Mude suas opiniões. Tome alguns porres. Tome muitos porres. Sairemos algumas vezes. Vamos ficar juntos algumas noites. Trocar carinhos como na época que namorávamos. Vamos sentir saudades. Vamos viver com essa saudade. Você vai conhecer outra menina. Não vai querer ficar com ela. Você não consegue trair o que sente por mim. Mas você vai ceder, se apaixonar. Vai me contar com medo, confuso, talvez tímido. Não vamos mais nos ver. Você vai namorar alguns anos, talvez ficar noivo. Ela será tudo na sua vida. Até que um dia, sem mais nem menos você se verá sozinho. Vai perceber que com ela também não deu certo porque você ainda me amava. Vamos nos encontrar, em uma irônica coincidência do destino. Talvez em outra cidade, ou outro país. Estaremos diferentes. Mais velhos. Talvez mais maduros. Apaixonados. Vamos conversar horas a fio, como se não nos víssemos a apenas algumas horas. Vamos até a sua casa onde haverá uma caixinha escondida em um canto com nossas lembranças. Minha aliança estará pendurada em uma corrente em meu pescoço e a sua, dentro de um saquinho esquecido pelo tempo. Nos beijaremos. Ficaremos confusos. Estaremos entregues as artimanhas e caprichos do destino. E teremos a certeza de que nosso amor é para sempre.

Saia.

Quem é esse saidinho?
Saiu da barra da saia da mãe.
Foi procurar um rabo de saia.
E quando eu saio na rua, também quero que saia.
Jogo logo meu sorriso, ele olha a mini-saia.
Me joga sempre uma cantada que da cabeça não saia.
Agora entrou no meu mundo, peço a ele que saia.
Saia da minha cabeça! Saia! Saia!
E se com ele eu não sair, ele que não saia.
Porque amo esse saidinho.
E do coração dele não saio. Nem que saia. Nem de saia.

Sem conteúdo

Estavam eu e ele.
Eu sorrindo, ele sério.
Eu sempre rindo, ele vez ou outra esboçando um sorriso tímido.
Encostou no meu joelho, eu queria beijar-lhe a boca.
Tentei trocar duas ou três palavras.
Ele tão mudo quanto uma porta.
Pensei o que se passava em sua cabeça.
Percebi que não se passava nada.
Beijei-lhe a boca.
Fui procurar alguém pra conversar.

Ainda lembro do seu sorriso.

Você sorria quando me via.
Abria o maior sorriso do mundo.
Seus olhos brilhavam com seu sorriso.
Eu perdia o chão. Meu coração disparava. Meu corpo adormecia.
Ah! O seu sorriso...
Quando se fechava o dia virava noite.
Ele era do tamanho do nosso amor.
Ainda lembro do nosso amor.
Ainda penso no seu sorriso.
Gostaria que você estivesse aqui.
Sorrindo pra mim.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Minhas três amigas

São três amigas importantes
uma bem pequena
todas elas
com um coração gigante

quando tropeço elas me seguram
mas quando me esqueço
ai de mim
elas emburram

eu sinto que amo
cada uma de um jeito
sem reclamar
nem por defeito

quando posso
espero pra ver
e se te importa
não quero perder

seremos amigas
enquanto eu viver.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Grafismos

Os gráficos sobem, descem, pulam e giram.
E você aí parado.

Poeminha

Ódio
deixa
curto
amor

Amor
deixa
vida
longa

Coisas da vida

Hoje tive uma conversa esclarecedora, no escuro.

Você

Quando te encontro
Conto os segundos
Somo os minutos
Me arrasto nas horas

Quando te ouço
Caminho nas águas
Suspiro no vento
Derreto de amor

Quando te vejo
Meu peito se agita
Minha alma se perde
E meus lábios te encontram

Faltando

Da falta de mim, dei falta do mundo.

No escurinho

Levou ao cinema
Mas o beijo não deu
Caiu a pipoca
E a tela escureceu

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Lição de Vida

A garrafinha sobre a minha mesa está metade cheia.
É assim que se encara, você sabe, uma garrafinha.

Eu não sei como será meu futuro.

Talvez eu me torne uma grande empresária, ou uma dona de casa, mãe de cinco filhos. Quem sabe não acontece uma guerra e eu encontro a solução para a paz mundial. Eu não sei.

Pode ser que eu perca o medo de dirigir, o medo de escuro, o medo da morte. Posso fazer aulas de teatro, voltar a dançar, aprender mandarim. Talvez eu plante uma árvore, escreva um livro, assobie uma música. Porque não, tropeçar em um bilhete premiado da loteria? Eu realmente não sei.

Há quem diga que eu vou conhecer o mundo, ou comprar uma casa e viajar para a praia nas ferias da crianças. Talvez não haja crianças, nem casa, nem marido. Talvez as férias nunca cheguem. O que eu sei, é sempre haverá sonhos.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Dez

Eu nasci dez anos antes, ela dez anos depois.
Era pequenininha, cabia nos meus braços.
Hoje zomba de minha altura, veste as minhas roupas.
Encontramos o amor de prima, amiga e irmã.
E mesmo estando longe, eu torço por ela.
Como uma fã, enquanto os anos passarem.

Segredinho

Quanto maior o coração, melhor o abraço.
Daqueles que eu encosto no seu peito e suspiro.
Ai, a gente se encaixa.
É uma maneira de agradecer por você estar aqui, de coração e peito aberto.

Chega!

Tenho orgulho.
Ferido, mutilado, estraçalhado pelas suas palavras.
A gente não escolhe como as coisas começam, mas define como elas terminam.
Vamos definir um final feliz, ok?

Pequeno milagre

A vozinha vinda do quarto era triste e solitária.
- Meu Deus eu não sei como tirar esse aperto do meu coração – disse a menina com os joelhos encostados no chão e as mãos entrelaçadas na beira da cama.
- Então reze minha filha. - Foi o que saiu do lado da porta.
E foi assim que a voz de seu pai humano, ganhou poder para que ela alcançasse o divino.
No dia seguinte um milagre aconteceu, a menina voltou a sorrir pois tinha os melhores pais do mundo.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Formanda

Enquanto esteve lá, ocupava todo o espaço.
Os dias, as horas os segundos.
Deixou os livros espalhados pelo quarto.
Era dona dos amigos, das risadas, das novidades.
Tudo tinha cheirinho de carro novo.
Na verdade, muita coisa mudou.
Mudei de ano, troquei de sala, mudei de amor.
Restaram fotos, lembranças e a certeza de um tempo bom.
Alguns se foram, outros ficaram sem dizer adeus.
Os dedos ganharam anéis, os pés ganharam caminhos.
Num piscar de olhos, chegou ao fim.
Com gavetas vazias e a alma cheia de alegria.
Afinal, tudo se tornou novo, de novo.

Trânsito de idéias

"A gente sabe que cresceu quando nossos sonhos viram planos."
Foi a conclusão a que chegamos, ali parados no farol vermelho.
E percebemos que, na verdade, a luz verde há muito já estava acesa.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Catracável

Todos os dias ficamos atracados.
Na hora marcada, no ônibus da escola.
É um tal de enrolar bolsa que derruba até caderno.
Eu desço no ponto, a ponto de chorar.
E a catraca continua lá, atracando quem passar.

Pontuado

A voz dele já não soa como antes. Entra por um lado e respinga pelo outro. Em minha mente ficam pingos nos “is” e pontos de interrogação deixados para trás.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Esqueça

Rita não sabia o que era, não sabia onde estava.
E muito reclamava.
O Doutor paciente, ouvia as queixas desconexas.
O diálogo se estendeu em lacunas e hiatos.
Rita abriu a boca e o Doutor arregalou os olhos.
Ela se esquecia do mundo, ele tocava nas bandas.
Em meio aos nomes de famosos pode ver seu filme predileto.
Por fim, diagnosticou.
Estava tudo lá.
Rita tinha a memória na ponta da língua.

O amor

O amor me dá medo.
Medo de perder, de errar, de sofrer.

As vezes tenho medo de amar demais, ser amado de menos.
Medo de errar na medida do ciúme.

O amor brinca com meus batimentos.
Subestima meu coração.

Ele vem e vai. Faz rir e chorar.
Decididamente o amor me faz ficar.

E o medo fica pequenininho, perdido na imensidão do amor.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Desaniversário

É importante que você saiba de duas coisas: a primeira é que meu guarda-roupa tem uma gaveta.

A segunda é que eu não ligo para aniversários. Aliás, não fosse pelo inferno astral, algumas marquinhas de expressão mais evidentes e minha priminha - que até ontem era um bebê - dizer que está namorando, talvez eu nem me desse conta que fico mais velha a cada ano.

Eu gosto mesmo é da festa dos outros. E amo quando esse outro é uma criança e a festinha é no Buffet. Mas ano passado tive a brilhante idéia de reunir a família para comemorar meus vinte e um aninhos. Essas reuniões costumam render algumas calcinhas para o dia-a-dia, um creminho pra mão e uma ou outra tranqueirinha divertida.

A organização exige cuidado e atenção: bolinho de padaria, amendoins em tigelinhas e refrigerante para as crianças. A recepção e o papo furado com suas tias avós fica a cargo da mamãe. Os assuntos vão de doença a geladeira da vizinha.

E no meio de tanta diversão você abre aquele embrulho contendo uma camiseta verde, com uma abóbora e aquela frase em inglês do Paraguai na cor neon fluorescente.

Sua avó elogia, a prima solteirona garante que ficou certinho e sua mãe manda você agradecer como se tivesse seis anos de idade.

Não adianta trocar, doar para a os desabrigados do Tsunami ou dizer que foi assaltada e entregou o presente em troca de sua vida.

Quem deu um presente ruim nunca esquece. Nunca. Ele pergunta sobre o presente. Ele quer ver você usando. Ele realmente acha que o presente é bom.

E é por essa e por outros que eu tenho essa gaveta, para me lembrar que no ano que vem tem mais. Ainda bem!

O bilhete

Ele olhou para as mãos que tremiam como aquela mesa com os pés tortos da casa da tia Lili. Podia sentir uma gotinha de suor escorrendo por sua testa em direção ao olho esquerdo. Aquilo causava uma ardência incômoda.
Tinha certeza que aquela era a sala certa. Havia comparado mais de dez vezes a plaquinha acima da porta com o bilhete que sua mãe lhe entregou. Lembrou-se de cada palavra sobre não perder o tal papel importante nem enfiá-lo em meio a bagunça de sua mochila.
Já conseguia se imaginar do outro lado da porta, tropeçando em frente a todos aqueles olhares desconhecidos que lhe analisavam meticulosamente. Procuravam de defeitos e falhas que poderiam - e iriam - ser usados contra ele em brincadeirinhas de mal gosto na hora do recreio.
Era sempre a mesma coisa: a tremedeira que lhe percorria o corpo magro, a ânsia que lhe corroia o estômago, o coração disparado e a vontade de sair correndo para enfiar a cabeça em um buraco bem fundo, como um avestruz.
Depois, vinha a raiva. Se seus pais não tivessem se separado nada disso estaria acontecendo. Ele ainda estudaria naquela escolinha de bairro em São José e não teria que ser analisado nem julgado por ninguém. Todos saberiam que ele era apenas ele: o garoto da casa amarela ao lado da sorveteria. Agora, veja só, não sabia nem o próprio endereço. Desistiu de tentar decorá-lo depois da quinta mudança.
Há mais de um ano era assim. Sua mãe mudava de emprego e ele mudava de escola. Tendo que enfrentar mais uma vez aquela gotinha de suor no olho esquerdo. Como aquilo incomodava!
Mas agora não era hora de pensar sobre o fracasso que havia sido o casamento de seus pais. Tinha que reunir toda a coragem que lhe restava e abrir logo aquela fechadura, antes que sua própria vida se tornasse um verdadeiro fracasso.
Pois é. Tinha. Mas acabou sentado na escada lá fora até que sua mãe aparecer para buscá-lo. Passando desapercebido por todas aquelas crianças que saiam das salas amplas e arejadas com seus cadernos agarrados ao peito.
Quando a mãe lhe abriu a porta do carro animada, perguntando sobre o primeiro dia de aula ele chorou. Como se fosse um bebê, ele chorou. Reuniu toda aquela coragem e conseguiu simplesmente chorar. Não disse nada além de alguns soluços.
No dia seguinte a mãe lhe deixou na porta da escola. O garoto parou em frente aquela porta e olhou para as mãos. O bilhete parecida diferente desta vez.
Ele lembrou-se das palavras de sua mãe que, assim como no dia anterior, lhe diziam para não enfiar aquele papel na mochila e, mais uma vez, frisaram o quanto se tratava de algo muito importante. As palavras haviam soado ainda mais firmes desta vez.
Ele abriu as dobras delicadamente feitas por sua mãe e leu as palavras escritas com a caneta dourada comprada especialmente para os cartões de natal da família. Guardou o bilhete no bolso, abriu a porta e entrou na sala.
Neste dia o garoto soube que a única porta que ele nunca deveria ter medo de abrir é a do coração. As outra, bem, essas são apenas portas.

Mal agradecida

Minha bolsa está sobre a mesa. A tempos eu não olhava para ela desse jeito, tão displicente, jogada ao esmo, sem eira e muito menos beira que de costume.

Ela é do tipo grande, pronta para levar todo tipo de tranqueira extremamente necessária para minha sobrevivência. Ou não. Nem sei ao certo o que há dentro dela.

Estou começando a temer aquela bolsa. Mais parece um buraco negro me encarando com todas aquelas coisas que um dia me pertenceram. Ela ri pra mim com aquele zíper dos dentes quebrados.

Ainda me lembro dela, tão novinha e inocente. Intocável.

Hoje esbarra em todo e qualquer tipo de objeto ou pessoa. Não respeita nem a si mesma.

É mesmo uma descarada de estar sobre aquela mesa. Jogando em minha cara todas as falhas e defeitos que me acometem. Todo o meu consumismo incontrolável, minha falta de atenção.

Quem ela pensa que é, ali jogada na mesa? A dona da minha vida? Me controlando, dizendo o que preciso ou não para viver?

O que ela está fazendo na mesa? Que mesa é aquela?

E quem é aquela mulher vindo em sua direção, jogando-a no ombro como eu mesma costumo fazer? Onde ela está indo? Onde minha bolsa pensa que vai? Aquele chaveiro dourado... Olha só como ela anda mostrando para tudo e todos que não se importa mais comigo. Moça! Moça, volta aqui! Socorro!

Chaveiro dourado?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Famigerado

Almoçar em restaurante por quilo é como pesar nossa paciência.

Saímos da fila da porta para filar algum último pedaço. E temos que ser rápidos no garfo pra não sair na faca com alguém.

Por fim, quem exagera no peso, sai é com a consciência pesada.

Lembranças

Desde que sabiam eram amigos. Nunca brigaram ou descordaram de algo. O sol raiva no alto do céu, indicando que a metade do dia já havia passado. Luiza chegou correndo no quarto de André e logo foi entrando. André se assustou, soltou um grito e, só então, viu Luiza junto a porta, com a respiração ofegante e a face branca como papel. Ela tentava, juro que tentava, mas não conseguia proferir uma só palavra. Ele a abraçou. Ela tinha o olhar fixo, penetrante, penetrando janela afora. Ele correu para o parapeito daquela janela pequena com o vidro esfumaçado e viu Maira no quintal, junto a cerejeira onde costumavam fazer pic-nic nas tardes de primavera. Ela estava imóvel. Segurava um objeto que, daquela distância ele não podia reconhecer. André se viu com medo, um medo como jamais sentira antes. Uma lágrima brotou em seu olho, mas ele a secou antes mesmo que pudesse tocar seu cilho inferior. Ele deveria ser forte. Era o homem da casa. Luiza sempre fora muito exagerada, emotiva. Maira estava sempre preparando alguma gracinha. De certo estavam lhe pregando uma peça. Mas André, ele sim, era a razão. E desta vez, não seria diferente. Ele tinha que ter o controle, ele tinha que protegê-las. Saiu correndo até a escada principal e desceu corrimão abaixo escorregando a bunda. Abriu a porta da frente da casa mais rápido do que nunca. Quando colocou o primeiro pé na soleira da porta, os primeiros raios de sol tocaram seus olhos e ele mal pode enxergar Maira. Saiu correndo em direção a cerejeira e encontrou apenas um bilhete que dizia: “Não nos esqueça”. André, então deu um grito e se viu, deitado em sua cama, acordando de um pesadelo. A muito tempo não sonhava com aquelas meninas com quem passara boa parte de sua infância. Havia se esquecido delas. Havia se esquecido da beleza e sensibilidade de Luiza. Nunca mais pensara naquela risada alegre e despreocupada de Maira. Ele era agora, velho. Esquecera a emoção, esquecera a alegria. Era um solitário e triste dono de sua razão. Sem nenhuma razão para viver.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Uma mulher apaixonada

Bianca era uma menina bonita, na flor de seus vinte e poucos anos, com a carreira deslanchando em promoções e elogios de seus superiores. Era do tipo falante, não media suas palavras tampouco o efeito que as mesmas poderiam causar. Usava roupas da moda e exibia um belo corpo. Os homens a cobiçavam e ela os deixava acreditar que poderiam ter alguma chance de laçar seu coração, embora jamais permitisse que tal coisa acontecesse.

Certo dia, porém, Bianca se apaixonou. É ai que a mulher deixa de ser uma simples mulher. Bianca era agora: uma mulher apaixonada.

A partir daquele momento ela estava sujeita a todas os imprevistos, gafes e situações embaraçosas que a vida lhe pudesse causar. E acredite, a vida já havia lhe preparado poucas e boas. Havia agora em seu rosto, um novo sorriso, que ia mais ou menos de uma orelha a outra e, quando Bianca menos percebia, já estava com as bochechas coradas.

A natureza não sabe guardar o segredo de uma mulher apaixonada, ela denuncia aquele segredo íntimo em cada segundo de sua presença. Do dia em que se apaixona em diante, a mulher desaprende a andar, tropeçando mesmo que não esteja de fato andando; desaprende a falar, gaguejando de maneira ridícula e aparentemente perde a memória, esquecendo e confundindo frases, nomes e datas de forma impressionantemente estúpida. É como se a paixão deixasse você de pernas bambas vinte e quatro horas por dia. É como estar drogado vinte e quatro horas por dia, sem que você tenha aceitado consumir essa droga.

Algumas mulheres tendem a comer mais do que de costume, enquanto outras tendem a gastar mais do que ganham. Com Bianca não poderia ser diferente. Se o cara não estava ao seu lado, a caixa de chocolate guardava seu lugar. E entre uns quilinhos a mais e uns centavinhos a menos, Bianca renovou um guarda-roupas com um número a mais no manequim.

Chegou então a fase da coleção. Bianca começou a colecionar conselhos das amigas e fotos do cara. Ela descobriu que toda mulher nasceu para ser detetive, e isso não é uma opção. Investigamos nomes, lugares, pessoas, e continuamos investigando se não encontramos nada que nos desagrade. Tem que haver algo que nos desagrade e vamos encontrá-lo. Mesmo que seja para chorar, se entupir de chocolate, desabafar com a amiga, escrever um poema triste ou simplesmente assistir a uma comédia romântica totalmente clichê e ter dó de si mesma. Mas a gente quer saber.

O que Bianca acabou descobrindo por fontes nada confiáveis, é que o cara estaria em uma festa. Logo, ela aumentou a dívida do cartão, enfrentou a depilação, bateu papo com a manicure, engoliu uma folha de alface e saiu.
Foi para a festa, linda e insegura em seu vestido novo que, por pouco, não revelava a polpinha de sua bunda. E, obviamente, Brianca ficou bêbada.

Sim, nós achamos que as bebidas tem um ingrediente chamado “coragem”. É um ingrediente secreto que as empresas sabiamente colocam na composição e esquecem de escrever no rótulo. A dose indicada para uma mulher apaixonada é alta e pode causa efeitos colaterais indesejáveis. Bianca bem sabe disso, já que depois de passar a festa inteira abraçada com o vaso sanitário saiu de lá tão apaixonada quanto antes e com a aparência de um resto deplorável de ser humano trajando um vestido preto com manchas estranhas e segurando as sandálias, uma em cada mão.

Três anos se passaram e o cara foi transferido. A notícia veio como uma bomba e Bianca lamentou não ter morrido naquele momento. Ela não iria mais gastar dinheiro com roupas novas rezando para encontrar o cara no elevador na hora do almoço, nem sentir aquele frio na barriga quase que insuportável quando ele passasse distraído por sua mesa, nem mesmo ouvir fofocas sobre ele nos corredores ou na fila do bebedouro, enriquecendo assim sua investigação. Não haveria mais o que investigar. Nada mais tinha sentido algum.

Era isso. Bianca tomou uma dose de coragem pura, sem bebida, e foi falar com ele. Ela jamais havia chegado tão perto assim dele. A cada passo sua boca secava mais um pouco. Foi se aproximando e começou a reparar que sua testa dele adentrava de maneira levemente exagerada o cabelo que, em seus pensamentos, era mais cheio de vida. Olhando daquele ângulo ele nem era tão alto assim. Sentiu-se estranha.

O cara olhou para ela e sorriu. Seu sorriso ia aproximadamente de orelha a orelha revelando um dentinho torto na arcada inferior. Seus olhos brilhavam como duas estrelas e ele gaguejou e pigarreou algumas vezes antes de lhe dizer um sonoro: “Olá”. Em seguida acabou esbarrando em uma pilha de papéis, revelando certo nervosismo. Por fim, seu hálito não se parecia com um chiclete de hortelã e sua voz não soou grave como a de um locutor de rádio.

Bianca, então, percebeu um sinal. Tão pequeno como um sopro de ar em uma tempestade. Aquele cara estava apaixonado. Por ela. De uma forma tímida e imprevisível, ele estava apaixonado por ela. Ele a desejava. Talvez cultivasse esse sentimento a anos, antes mesmo que ela tivesse notado sua presença e nunca conseguiu juntar coragem ou bebida suficiente para dizer a Bianca o que sentia.

E ai... bem... ai Bianca achou que aquilo tudo não tinha mais graça. De repente estava tudo tão claro e estranhamente fácil e correspondido.
A chama da paixão que queimava em seu coraçãozinho foi se apagando, apagando, até que ela lhe desejou boa sorte e voltou a ser a velha Bianca de antes.

Daquele dia em diante ela não mais tropeçou, nem mesmo gaguejou. Mas continuou gastando o que não tinha e comendo o que não podia, afinal, ainda era uma mulher.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O vestido de Júlia

Julia é uma fascinada por vestidos de noiva. Do tipo maníaca, perseguidora e solteira.
Há tempos ninguém na sua família se casa. E ela mesma já perdeu as esperanças.
Depois do almoço, quando passa pela lanchonete da Sr. Eliza, Julia para em frente a vitrine da pequena loja de noivas da Rua Pequetita que exibe, orgulhosa, aquele vestido desgastado que um dia fora branco. Mas não é o modelo, nem a cor, e muito menos o preço que fascinam Julia. É o sonho.
O vestido da noiva é o sonho realizado em tecido, bordados e linha, muita linha.
Julia se perguntava quantas noivas já não haviam realizado o maior sonho de todos e tiveram o momento mais feliz de suas vidas usando aquele vestido.
Ela fora noiva certa vez no passado. Havia providenciado todos os detalhes, havia encontrado o vestido perfeito, com o véu que mais parecia o céu de uma tarde de verão sobre seus cabelos, beijando suavemente a calda que lhe seguia os sapatos dourados.
Certa tarde enquanto tricotava um cachecol, Julia se deu conta do quanto fora feliz em seu vestido que jamais adentrou a igreja. Aquela era a forma mais concreta de seu sonho: o vestido. O mesmo vestido que agora realizava o sonho de muitas outras jovens que passavam pela lojinha da Rua Pequetita.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Fila

Sai de casa pra fila do ônibus.
Fiquei na fila do corredor.
Cheguei no trabalho, pra fila da catraca.
Dei bom dia para a fila do elevador.
Deixei minhas coisas na mesa pra pegar a fila do café da manhã.
A fila do leite estava menor que a da manteiga.
Trabalhei com a imagem de um Fila na tela.
Fui almoçar num restaurante com fila de espera.
Peguei fila no caixa, ao lado da fila do manobrista.
Fila da catraca e do elevador.
Dia sem novidades, e fila pra escovar os dentes.
Encontrei uma fila de formigas na minha mesa.
Fila pra pegar o trem de volta pra casa.
Fila pro passe. Fila do corredor. Fila pra descer.
Já deitada, conto carneirinhos. Pulando. Em fila.

Duelo

Estávamos frente a frente.
Como num duelo.
As lágrimas pesadas com chumbo rasgavam meu rosto.
Nossas mãos já não se encontravam mais.
Aqueles olhos opacos, mortos, gritavam adeus.
Minha respiração ofegante arrancava de meu peito qualquer sopro de esperança.
Queria gritar. Correr. Morrer. Não antes de tocar seus lábios pela última vez.
O mundo não girou por três eternos segundos. Nada aconteceu. Nada.
Apenas o vento assobiando a trilha de nosso fim.
Podia ouvir o som do meu desespero.
Meus sonhos se quebrando como um copo de cristal.
Foi naquele momento.
Você se virou. Eu morri. Como num duelo. Sem olhar pra trás.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Gabriela e suas coisas

Gabriela gostava de coisas. Coisas de todos os tipos.

Tinha seis portas de guarda-roupa com todas as coisas mais legais do mundo.

Em uma manhã de sol ela se perdeu entre os cintos, sapatos e cachecóis e acabou achando aquela coisa toda muito estranha.

Ela já não sabia quem ela era ou do que gostava. Tinha tantas coisas que acabou se esquecendo do principal. Por fim, ela percebeu que as únicas coisas que realmente importavam eram aquelas que ela podia carregar dentro de seu coração.

Gabriela vestiu o cinto, combinou com o sapato, completou com o cachecol e saiu a procura de um grande amor.

De alma comprada

Desde criança eu queria fazer propaganda.

Eu gostava dos publicitários com suas roupas descoladas, tatuagens e cabelos diferentes. Pensava até em um comercial para pasta de dente com um solzinho sorridente iluminando o dia com seus dentes brancos.

Hoje trabalho em uma grande agência onde muitos dizem ter medo de se tatuar e as meninas usam salta alto. Mas eu sinto a criatividade que envolve a alma de todos. É uma coisa colorida que se propaga pelo ar, cheia de idéias e significados. É a criatividade que deixa tudo legal por aqui.

Eu ainda não sei se propaganda é a alma do negócio, mas de certo propaganda é um negócio que vem da alma.

Perdas

Desde criança Laura sofre de um estado de culpa crônico. É uma espécie de sensação de culpa que atinge as pessoas naturalmente desastradas e esquecidas quando são surpreendidas por uma perda.

Com Laura, o quadro começou ainda criança quando ela chegava em casa e se dava conta de que havia esquecido os potinhos da lancheira em algum lugar do pátio na hora do recreio. Sua mãe também não colaborava: comprava os melhores potinhos que uma criança poderia ter e isso com certeza, não ajudava no processo de aceitação da perda.

Quando Laura se dava conta de que havia perdido algo, uma culpa terrível amolecia suas pernas, disparava seu coração e lhe causava uma ânsia incontrolável. E, hoje, já adulta, Laura ainda não aprendeu a lidar com esse sentimento, muito menos deixou de perder as coisas.

Não importa se perdeu a hora, se perdeu a vez, se perdeu a chance de ficar calada ou a oportunidade de comer menos na hora do almoço, Laura só tem uma certeza: hora ou outra a culpa vai lhe consumir.

Certo dia, enquanto se torturava entre a culpa de ter comido uma sobremesa e de ter deletado uma música que não lhe agradava muito, Laura recebeu um telefonema.

Foi nesse telefonema que Laura percebeu que a culpa é o pior arrependimento que existe, porque ela havia acabado de perder alguém que amava.

A culpa não era de Laura que seu avô tivesse ficado doente, tampouco que tivesse falecido. Mas era culpa dela não ter dito que o amava quando teve chance, nem mesmo de ter agradecido por tudo que ele havia feito por ela.

A culpa que Laura sentiu era maior do que ter perdido o potinho no recreio, o caderno na faculdade, ou a hora para aquela festa que ela esperou meses para acontecer. E foi então que ela entendeu que não tinha perdido todas essas coisas: ela tinha ganhado.

Laura ganhou um potinho lindo que pode usar por longos meses, um caderno que lhe ajudou a passar na prova de Geografia e um namorado que conheceu na porta da festa que acabou não entrando por causa do atraso. E, enquanto se despedia, Laura agradeceu por ter ganhado o melhor avô do mundo e relembrou com carinho e lágrimas de saudade todos os momentos que passaram juntos.

Proibido

Por incrível que pareça, a primeira vez que ouvi aquela palavra foi da boca da professora de ciências.

É engraçado como a palavra “maconha” não saiu dos lábios dos meus pais durante toda minha adolescência. Acho que tem a ver com a postura que eles decidiram tomar na minha criação: a gente finge que não existe, ela finge que não usa.

Isso não significa que eu use, mas também não quer dizer que, em algum momento desta minha breve história de vida, não tenha tido a curiosidade de experimentar.

Acontece que na escola a coisa é diferente do jantar de casa. Não existem palavras proibidas, significados desconhecidos, nem acessos limitados a substâncias ilegais.

Em resumo: se seu filho quiser, ele provavelmente vai conseguir.

Foi assim com nossos avós, com nossos pais e, com certeza, na nossa geração o trem descarrilou de vez. Agora não é uma questão de paz e amor, é uma questão de tráfico e guerra.
As drogas deixaram de ser um tabu pra se tornar uma pedra no sapato da sociedade e no caminho da luta contra a violência.

Para mim a maconha se tornou uma palavra conhecida, mas ainda me faltam motivos para acreditar que a sua descriminalização irá nos trazer de volta um pouco de paz e, quem sabe, de amor ao próximo.